sábado, 27 de dezembro de 2008

O mundo é grande

“O mundo é grande”. Pensei nesta condição por longo tempo durante a tarde. Ele é tão grande que mal posso ter certeza... Não posso saber de tudo que nele existe. Não posso saber de tudo. Tampouco posso estar em vários lugares ao mesmo tempo e sei que a cada instante acontece alguma coisa: cada instante é um acontecimento. Agora por exemplo deve estar nascendo uma pessoa; neste mesmo instante alguém pode estar morrendo (sempre soube que vida e morte coexistem e se complementam). Também, quando nasci, creio que alguém deva ter morrido e quando for a minha hora, talvez nasça alguma pessoa. Não que uma substitui a outra, não estamos em constante revezamento, mas é porque o mundo é grande e muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. E eu nem posso saber de todas elas. Eu, que perto deste mundo sou tão pequeno. E ele, que me abriga não por vontade, mas por não me poder deixar de fora de si. Bem, sempre tive a necessidade forte de ser grande e forte de alguma forma que pudesse provar a este gigante, que não estou nele por acaso; para poder dizer com certa autoridade que uma parte sua é minha por direito e que sou um pedaço – significativo – seu. As pessoas são pedaços do mundo. Ele é o reflexo das pessoas que nele se abrigam. Quero provar que não faço parte de um acaso que se abriga no mundo porque não pode ser jogado fora; quero merecer o meu pedaço.

Hoje passei o dia todo em meu quarto. Vi o mundo somente pela janela – as poucas vezes que saí foram para ir a outro cômodo da casa, mas ainda continuei a vê-lo apenas por janelas. Senti que pudesse estar perdendo a parte que me cabe... Não sei; não zelava por ela... Pensei que pudesse não a merecer, por conta disso. Ou porque, dentro do quarto, não exercia com louvor minha função de “pedaço significativo”, porque nada fazia pelo mundo. E se nada fazia, mal também não provinha de mim: talvez tenha ajudado não atrapalhando... “Mas quão imenso é este mundo!”, pensei. Ora, meu pedaço por direito não é a visão fragmentária da janela. O gigante me abriga não por não ter outra escolha, mas porque sou um pedaço que lhe compõe de tal modo que mais ninguém, em nenhum lugar, em nenhuma época o compôs, compõe ou o comporá. Meu pedaço está além da visão fragmentária da janela de qualquer lugar. Ele está pelo mundo. Possa ser que eu o construa como um quebra-cabeça: cada peça, um lugar diferente. Vou descobrindo-o conforme descubro o mundo.

Sei que não posso ter o mundo todo, pois ele é imenso e por isso, também, não posso saber de tudo que o “move”. Mas é que estando no meu quarto, sei que mil coisas estão acontecendo ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, nada acontece. Conformo-me por não saber de tudo, mas não aceito nada saber. Eu preciso explorar este gigante, vê-lo acontecendo e instruir-me! Estou, inclusive, aceitando a condição de não saber tudo, porque acabo de compreender que não posso saber de tudo nem a respeito de mim mesmo. Pois acabo de descobrir que não sou tão pequeno quanto pensava: vou-me descobrindo pouco a pouco. Sinto, neste momento, a imensidão. Sinto que somos grandes; somos imensos: o mundo e eu.

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