sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Na maior cidade do Brasil

Estava andando pelo corredor da minha casa hoje de manhã e, como alguém assistia a um telejornal num volume um tanto quanto alto em um cômodo próximo ao lugar ao qual me dirigia, não pude deixar de ouvir a voz do jornalista que o apresentava. Inevitavelmente prestei atenção ao que ele dizia e algo em suas palavras me levou para longe... Ele disse exatamente assim: “São Paulo, a maior cidade do Brasil, sofre, cada vez mais, com trânsitos quilométricos”. Vejam só: quando ouço falarem da cidade de São Paulo, na televisão ou no rádio, na maioria das vezes, ouço seu nome acompanhado pelo epíteto “a maior cidade do Brasil”. O mesmo acontece na imprensa escrita e em livros de geografia: “São Paulo” vem, geralmente, qualificado por este aposto. Mas não foi este “fenômeno sintático” que atraiu tão profundamente minha atenção a ponto de me fazer ficar parado por um tempo, pensando no que ouvira há pouco. Bem, na verdade, o que menos me chamou a atenção foi a notícia em si. Afinal, tornou-se um assunto recorrente na mídia o tráfego interminável de carros nesta cidade. Sabemos que, diariamente, enfrentam-se trânsitos em vários pontos de São Paulo para se chegar a um destino ou até mesmo para se chegar a lugar nenhum é preciso enfrentá-los. Mas não é de se espantar que uma cidade tão grande como esta – a maior do Brasil – tenha problemas como este. Talvez seus problemas sejam proporcionais a seu tamanho.

De modo coerente, sua população também é grande. Ônibus, trens e metrôs estão, comumente, congestionados. A quantidade de pessoas nesses transportes públicos, às vezes me assusta. Nunca podemos saber o que tanta gente junta é capaz de fazer – talvez seja porque não tenhamos certeza até onde podem chegar muitas pessoas reunidas: tanto para bem quanto para o mal. E tanta gente junta tem um poder desconhecido. Esses amontoados estão por toda parte... Em certos momentos, caminhando pelas ruas e avenidas, sinto-me engolido pela multidão e, ao mesmo tempo, cuspido por ela. Engolido, porque caminha com pressa em minha direção, envolvendo-me com uma camada de corpos de diversos tipos; e cuspido, porque passa por mim tão rapidamente – às vezes parece que me atravessa, como se eu fosse invisível; às vezes em mim esbarra –, atirando-me para fora desta camada estranhamente envolvente e medonha.

Em São Paulo, diferentes etnias, crenças e culturas dividem um mesmo espaço. É uma cidade “cosmopolita”. Há pessoas de várias partes do mundo morando aqui... É um lugar onde árabes e judeus podem ser vizinhos; gregos e turcos. Em São Paulo existe essa possibilidade. Mas o que me deixa intrigado é que, embora a diversidade, não sei dizer com certeza se sua população é homogênea. O que sei é que sua população é grande. Essa diversidade não pressupõe mistura. Os diferentes grupos étnicos coabitam a cidade, mas preservam sua individualidade. Quero dizer, resguardam-se.

Hoje de manhã, quando escutei o telejornal, lembrei-me do trajeto que faço para ir ao meu principal compromisso atualmente e para voltar à minha casa: Nele, há pessoas por toda parte. Dentro e fora do meio de transporte em que me encontro. Pessoas de diferentes grupos por toda parte. E quando estou num trânsito, há pessoas dentro dos veículos ao meu redor. Mas creio realmente que elas não se misturam; não claramente. Elas nos envolvem e nos cospem; logo se dispersam. Por que é que numa cidade tão grande e com tanta gente, nós, muitas vezes, sentimo-nos sós? O trânsito que me atrasa poderia dar-me companhia.

Esses excessos poderiam ser menos estressantes. Nós deveríamos aproveitar mais as oportunidades que a cidade nos dá para sermos mais gente.

Um comentário:

Fábio Gesse disse...

É Matheus... é uam coisa sem explicação... com tanta gente ao nosso redor... nos sentimos sós do mesmo jeito...

Gostei do teu blog... coloquei nos favoritos... ^^